domingo, 25 de fevereiro de 2007

Entre uma verdade e outra ...

Uma coisa é aquilo que aconteceu mesmo, outra bem diferente é o que a minha imaginação foi teimosa e repetidamente distorcendo e fantasiando à medida que, naquele verão, os factos se iam sucedendo.
Há uma diferença abismal entre as imagens que recordo, os gestos rudes e brutos e as palavras duras, hostis, depreciativas e até crueis que ficaram gravadas nos meus ouvidos e que obtenho quando me forço a recorrer à minha lucidez e bom senso, e aquilo que resulta da minha excessiva tolerância, as quais traduzem reflexos de mim mesma, misturando-se com sentimentos de culpa.
O tempo ajudou a formar uma barreira entre o real e o que é fruto da minha imaginação, mas o mesmo tempo vai esbatendo a linha que separa a verdade da mentira e deixando a descoberto o essencial. Aquilo que aconteceu misturou-se com aquilo que eu queria acreditar que tinha acontecido ou com aquilo que me quiseram fazer crer que aconteceu. O tempo reforçou o meu sentido de benevolência, diluindo toda a carga negativa e adulterando os factos, suprimiu o receio de eventuais consequências inerentes ao acto, deixando apenas um sentimento de culpa a que se veio juntar um leve arrependimento.
Se hoje, à distância de quase 4 anos, tento analisar demoradamente os factos, concluo que resultaram duma vontade a dois, estando fora de questão demitir-me da responsabilidade e quota-parte da culpa que me cabe, independentemente da forma como a outra parte analisa os factos, distorcendo e deturpando intencionalmente a verdade por interesse ou conveniência, demitindo-se do seu papel activo nos mesmos, transformando-se em inocente e até mesmo em vítima.
Só assim, assumindo os actos, pude com clareza e em consciência, aceitar a realidade e avaliar até que ponto errei.
Tal como se de uma "maleita" se tratasse, depois de detectado e isolado o vírus (erro), posso munir-me de um "antídoto", neutralizá-lo e evitar futuros "focos de moléstia".
Em suma, sinto-me melhor com a minha consciência, o que duvido aconteça com quem optou pela via mais fácil ... alterando a verdade dos factos a seu favor, descartando qualquer hipótese de erro ou responsabilidade, assumindo um papel de inocente.
Mais cego é aquele que não quer enxergar !!!



6 comentários:

Laura disse...

Mais cego é aquele que não quer enxergar..Eles enxergam bem, mas fazem de conta , claro..e nós passamos por burras e nem somos, mas deixa lá querida, eles quando chegar a hora verão o que andavam a fazer de conta que nem viam, e depois....

africana disse...

É Adrianna..acho que quaze todos temos essa sensação de pagarmos uma vida inteira por um erro que cometemos algures no nosso percurso de vida,por mais anos que passem. Chegamos mesmo a pensar que o conseguimos banir, mas por muito que tentemos ilimiar esse "vírus",parece que ele apenas fica adormecido,ao mais pequeno toque,ele acorda e lá regressa tudo de novo..
Errar é humano dizemos,mas podemos sempre usar os erros como "vacinas" para evitarmos magoar-nos ou deixar-mo-nos magoar..

Adrianna disse...

Vejo que a nina africana me entende :-)
É isso aí ... msm após termos aceitado e aprendido a viver com o nosso "erro", basta estarmos mais vulneráveis e ele mantem-se alerta, como um vírus que se reactiva, desperta e nos consome, em cada recaída.
Excelente semana

africana disse...

Adrianna, desculpa perguntar..mas desta mágoa..morreu alguém? Não?Então porquê dar tanta importância à questão?E dizes tu que já passaram 4 anos!? Diria que foi ontem!Isso já devia estar morto e bem enterrado!O que não me parece pois ainda se vislumbra tristeza na tua escrita..deve ter sido um daqueles momentos em que levou um toque..não?Bora lá levar isso de vez para o crematório e nem se preocupe em enterrar as cinzas,deixe mesmo tudo lá no forno, não vá o diabo tecê-las!

Adrianna disse...

Não, nina africana. Não morreu ninguém, nem de morte morrida nem de morte matada :d)
Mas para mim é alguém que está morto, só que não sabe eheheh
Bem sentia que algo me escapava ... não me ocorrera essa ideia do forno crematório, pois claro! Vou já tratar disso ihihihih
Obrigada.

africana disse...

Ah pois é Adrianna! Ideias é comigo, não fora eu uma exímia em enterros destes!!!!ahaahahaha